O Pantanal que você não conhece: Porto da Manga
- tremdopantanal

- 10 de out.
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A cerca de 62 quilômetros de Corumbá, no coração do Pantanal Sul-Mato-Grossense, o Porto da Manga é mais do que um ponto turístico: é um retrato vivo da resistência humana em meio à natureza exuberante e desafiadora. A comunidade, formada por cerca de 46 famílias, sobrevive entre águas, peixes e tradições, equilibrando-se entre a fé, o isolamento e a luta diária das famílias ribeirinhas.
A origem do Porto da Manga remonta ao início do século XX, quando o Marechal Cândido Rondon instalou ali uma das estações telegráficas de sua linha de comunicação, integrando o Oeste ao restante do Brasil. O local, outrora estratégico para o avanço das comunicações, hoje é o local onde moradores e pesquisadores sonham em transformar no Museu Rondon do Pantanal, projeto que ainda aguarda recursos e apoio institucional.
Atualmente a comunidade conta com cerca de 250 moradores. A maioria é descendente de famílias pantaneiras e migrantes de Corumbá, com raízes fortes na voz e memórias de antigos moradores que chegaram no século passado.
A vida segue um ritmo próprio. As casas, simples e erguidas em áreas às margens do Rio Paraguai e ao longo da Estrada Parque Pantanal. A solidariedade e o companheirismo de casas que se misturam no areião da vila continuam sendo o cimento que mantém a comunidade unida.

O trabalho no Porto da Manga gira em torno do rio. Homens e mulheres tiram da água o sustento: os homens geralmente pescam e pilotam barcos, já as mulheres coletam iscas vivas, especialmente a tuvira, é atividade tradicional do Porto da Manga um ofício artesanal e exaustivo que alimenta o turismo de pesca esportiva na região.
A renda local se complemente com pequenas roças de mandioca e abóbora, fretes fluviais, transporte de turistas e etc. O dinheiro é escasso e instável. A redução do turismo após as queimadas de 2020 e 2024 impactou diretamente as famílias. O turismo caiu significativamente.
No Porto da Manga você ainda encontra a balsa que faz a travessia sobre o Rio Paraguai pela rodovia MS-228, conhecida como Estrada Parque, é uma estrada cheia paisagens pantaneiras onde se pode visualizar vários animais ao longo do seu curso.
O acesso à comunidade por vezes é difícil, especialmente durante o período de cheias. A estrada de terra se transforma em lama, e o ônibus passa apenas duas vezes por semana, às segundas e sextas-feiras. A energia elétrica chega por linhas antigas e sofre interrupções constantes. A água é retirada do rio por bombas, e a internet é cara e compartilhada entre vizinhos, com sinal instável.

Durante as cheias históricas, como a de 2011, muitas casas ficaram parcialmente submersas, são ciclos que ocorrem no Pantanal cheias, secas e ultimamente as queimadas.
A escola local oferece ensino até o 9º ano e funciona em regime integral, atendendo cerca de 44 alunos. Depois disso, os adolescentes precisam deixar o Porto da Manga para estudar em Corumbá, um custo alto, emocional e financeiro. Professores e diretores revezam turnos e, em sua maioria, não moram na comunidade.
Faltam cursos técnicos, programas de capacitação e transporte escolar regular. A parceria com instituições e cursos profissionalizantes seria uma boa opção para manter os jovens na comunidade. Muitos vão pra cidade e não voltam por falta de oportunidades de emprego.
O atendimento médico e odontológico é esporádico e geralmente a população é assistida pelo Povo das Águas, os moradores também recebem apoio da Marinha do Brasil e outros órgãos realizam ações pontuais de atendimento médico e odontológico para as comunidades ribeirinhas.

Em outubro, o Porto da Manga tem a festa de Nossa Senhora Aparecida, organizada há mais de 20 anos, é o maior evento da região. Os moradores confraternizam o dia todo com churrasco, missa e muita música regional. A celebração é mais do que religiosa: é o símbolo da união e da identidade pantaneira, um reencontro entre fé, tradição e pertencimento.
Nos últimos anos, as queimadas voltaram a ameaçar o ecossistema local, afetando flora, fauna e a própria saúde dos moradores. Entre 2020 e 2024 a região perdeu centenas de hectares de vegetação nativa, embora 2022 e 2023 tenham registrado uma trégua.
Mesmo assim, a comunidade segue resiliente, apostando em práticas sustentáveis e na esperança de um futuro mais justo.
Enquanto o progresso avança às margens do rio Paraguai, Porto da Manga continua a remar e sem mantém vivo, com coragem e simplicidade, no coração do Pantanal.
